Por Fernanda Bottoni – Você S/A.
Helena Fulgêncio, 31 anos, do Grupo Santander: decisão de antecipar o MBA para melhorar a visão estratégica.
Até meados do ano passado, era bem possível que profissionais de bom desempenho, com formação acadêmica razoável e alguma visibilidade no mercado tivessem até cinco ou seis propostas de trabalho nas mãos. Também era comum que muitos deles trocassem de emprego todos os anos e, em compensação, ganhassem salários 20% ou 30% maiores e assumissem posições mais altas no escalão corporativo. “Se uma pessoa mudasse de trabalho todo ano, em cinco anos, seu salário poderia aumentar 100%”, diz Carlos Eduardo Ribeiro Dias, sócio-gerente da Asap, empresa que atua no recrutamento de executivos em cargos de início de carreira gerencial. Com a crise econômica, no entanto, o cenário mundial mudou e, inevitavelmente, mudou também a velocidade com que surgem as oportunidades de crescimento. Se você planejava galgar uma promoção nós próximos 12 ou 24 meses, com salários cada vez mais polpudos, possivelmente esteja na hora de rever seu plano. “O que você precisa fazer é adaptá-lo ao atual cenário, que deve durar mais um ou dois anos”, diz Fernando Mantovani, diretor da empresa de recrutamento Robert Half, de São Paulo. Vejam quais são as dicas para adaptar seu planejamento à nova realidade do mercado, sem perder a motivação nem desperdiçar oportunidades.
Cautela e paciência
O fato de haver menos oportunidades abertas no mercado não é um problema para sua carreira. Afinal, isso não quer dizer que nenhuma proposta vá surgir nos próximos meses. “Mesmo num momento como esse, as empresas continuam tendo uma rotatividade natural”, diz Fernando. Sempre haverá alguém que se aposenta ou que é desligado da empresa por mau desempenho. O momento exige mais cautela e paciência. Isso porque, quando a demanda é menor, é preciso pensar muito mais antes de aceitar uma proposta. “Se não der certo, talvez você não tenha outra oportunidade tão cedo”, diz Carlos Eduardo, da Asap. Sobre movimentos ousados, Rolando Pelliccia, diretor doHay Group, consultoria de RH de São Paulo, é taxativo: “Decisões de risco devem ser evitadas”. De acordo com ele, não vale a pena neste momento assumir uma posição para a qual você não se sente totalmente preparado. “A cobrança sobre todos os profissionais está alta e não há tempo para aprendizado”, diz Rolando.
Educação e networking
Uma boa forma de crescer durante a crise é investir na educação e antecipar plano de fazer uma pós-graduação ou um curso técnico. “É fundamental aproveitar o período para melhorar sua formação em geral”, diz Luiz Valente, diretor-geral da Hays, multinacional especializada no recrutamento para média e alta gerência. Concentre-se em obter uma visão clara da realidade e das perspectivas da área e do setor em que você atua — um tipo de formação que melhora sua decisão. A educação executiva tem sempre a vantagem adicional de reforçar o networking. A mineira Helena Fulgêncio, de 31 anos, gerente de desenvolvimento sustentável do Grupo Santander Brasil, que o diga. Formada em engenharia civil, a profissional decidiu começar um MBA executivo na Fundação Dom Cabral, de Minas Gerais, no início deste ano, para melhorar sua visão estratégica. “O fato de estarmos num momento de fusão, no banco, e de crise econômica, no mundo todo, fez com que eu antecipasse essa decisão e bancasse o custo”, diz ela, que acredita que o curso lhe possibilitará identificar oportunidades e abrir novas opções de crescimento. Em pouco tempo, sua preparação já surtiu alguns efeitos. Segundo ela, sua visão dos processos do banco já melhorou. “Passei a enxergar o grupo como um todo.” O MBA ainda permite que ela troque experiências com 60 pessoas de diversos segmentos.
Movimento lateral
Outra dica dos especialistas para desenvolver a carreira em tempos de crise é prestar atenção nas oportunidades internas que surgem na empresa. “É possível buscar uma progressão lateral, que talvez não traga aumento de cargo ou salário, mas com certeza aumentará sua empregabilidade e sua experiência”, diz Fernando Mantovani, da Robert Half. Foi o que fez a paulista Fabiana Casolari Cunha, de 36 anos, gerente de marketing da Kodak. Depois de passar seis anos na área de trade marketing da empresa, ela se candidatou ao cargo que ocupa atualmente. Para conquistar essa transferência, Fabiana fez um grande planejamento. A primeira medida foi comunicar a intenção de migrar, registrando seu objetivo no sistema de recrutamento interno da companhia.A segunda etapa foi aprimorar as competências necessárias para o cargo, principalmente as relacionadas à gestão e liderança e coordenação de projetos. Por fim, Fabiana mudou seu comportamento. “Comecei a dar ‘pitacos’onde não era chamada”, diz, brincando. “Sugeria uma idéia ou outra numa definição de estratégia, tentava demonstrar que, além de executar bem o meu trabalho em trade marketing, também poderia pensar estrategicamente”, diz. Além disso, tratou de absorver funções de duas áreas que, por causa de uma reestruturação da empresa, foram extintas. Em outubro do ano passado, em meio ao estouro da crise, Fabiana foi escolhida para o cargo de gerente de marketing, acumulando a área de trade marketing, que já era dela. A estratégia que fez para ser transferida, a preparação de liderança e a forma como demonstrou conhecimento foram decisivas para que fosse escolhida. “Se a empresa não me considerasse preparada, possivelmente eu seria substituída por alguém que pudesse comandar as duas áreas”, diz. Hoje, ela trabalha mais horas por dia, tem mais responsabilidades e se sente mais motivada, mesmo sem ter recebido qualquer aumento de salário.
Começo, meio e fim
Pelo menos até o próximo ano, a tendência, segundo os especialistas, é de que mudanças de cargos e salário ocorram com menor freqüência. “Isso vai fazer com que cada passo na carreira de um profissional tenha começo, meio e fim”, diz Carlos Eduardo, da Asap. Por um lado, isso significa ter de assumir as conseqüências pelos próprios atos. Por outro, os profissionais terão mais tempo para fechar cada ciclo e, de fato, deixar uma marca em cada posição que ocuparem. “Eles não vinham tendo tempo para isso porque logo eram seduzidos por alguma proposta mais atrativa”, diz o consultor. A recomendação, em geral, é aproveitar para planejar, executar e avaliar o que foi realizado. “Antes da crise, as pessoas só paravam para pensar na carreira quando eram demitidas”, diz Arthur Diniz, diretor da Cresciment um Consultoria, de São Paulo. “É um erro. Essa avaliação deveria ser feita com freqüência”, diz. A dica é parar para pensar nos seus pontos fortes, nas especializações e nas competências que você ainda tem de desenvolver, mas vive adiando. Procure ainda reavaliar seus objetivos pessoais. “O cenário atual estimula a reflexão”, diz Rolando, do Hay Group. Aproveite para pensar como você vai definir sucesso para sua carreira nos próximos anos.
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